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A prática do voluntariado nos projetos de combate ao desperdício alimentar

  • 15 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de out.


Falar de voluntariado é abordar uma prática tão antiga como a humanidade, que sempre existiu sob múltiplas formas dependendo da história e cultura de cada país. Recorde-se que os primeiros registos de voluntários na Europa são de grupos de bombeiros voluntários.


Em Portugal, a Lei nº 71/98, de 3 de novembro, que regula as bases do enquadramento jurídico do voluntariado, define no artigo 2º:


  1. Voluntariado é o conjunto de acções de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas.

  2. Não são abrangidas pela presente lei as atuações que, embora desinteressadas, tenham um carácter isolado e esporádico ou sejam determinadas por razões familiares, de amizade e de boa vizinhança.


e no artigo 3º:


  1. O voluntário é o indivíduo que, de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora.

  2. A qualidade de voluntário não pode, de qualquer forma, decorrer de relação de trabalho subordinado ou autónomo ou de qualquer relação de conteúdo patrimonial com a organização promotora, sem prejuízo de regimes especiais constantes da lei.


Falar de voluntariado é falar em exercício de cidadania, de solidariedade e em realização pessoal. Uma expressão do envolvimento do indivíduo na sua comunidade. Uma atividade livre, que visa ajudar os outros, desinteressadamente.


Numa sociedade caracterizada pelos processos de reflexividade e de individualização, em que os indivíduos estão mais voltados para si mesmos e para a construção dos seus próprios percursos de vida, do que para projetos coletivos, como explicar o voluntariado, uma prática voltada para os outros? Que motivações levam esses indivíduos a prescindirem do que mais valioso lhes pertence, o seu tempo, a dedicá-lo aos outros, assumindo por inteiro essa responsabilidade comunitária, como se de uma tarefe cívica se tratasse? Na verdade, hoje gastamos (desperdiçamos) muito tempo com o imediato e supérfluo e perdemos a noção do que realmente importa e como podemos contribuir para a mudança.


Todos os dias pelo país fora centenas / milhares de voluntários (não tando como era desejável e necessário) empenham-se e comprometem-se em ações de interesse social e comunitário.


Seja na Refood, onde diariamente, ao final do dia, equipas de voluntários a pé ou de carro resgatam alimentos seguros e bons, em restaurantes e cafés, preparam-nos e distribuem-nos de imediato pelas pessoas que deles necessitam, seja no Banco Alimentar, onde todos os dias voluntários aprontam e distribuem, pelas várias instituições de solidariedade social, produtos alimentares doados pelas grandes superfícies ou pelas grandes cooperativas agrícolas, encontramos ali verdadeiros cidadãos.


O mesmo se passa na Fruta Feia, uma cooperativa que, com o auxílio de voluntários, combate o desperdício nos campos, resgatando ali toda a horta “feia” e fruta menos bonita, produtos que, não obstante estarem em boas condições de segurança e de qualidade alimentar, são rejeitados pelo circuito comercial (e pelo próprio consumidor pelo simples facto de não estarem inseridos no modelo comercial instituído, no que diz respeito aos padrões estéticos (tamanho, cor e formato). Só na Europa é desperdiçado anualmente cerca de 30% do que é produzido pelos agricultores. Depois de recolhidos esses produtos, a Fruta Feia cria pequenos cabazes que todos os dias são comercializados, a preços reduzidos, a consumidores que não julgam a qualidade pela aparência. “Gente bonita come fruta feia”. Uma atitude consciente e responsável, pois ao optarmos por estes produtos feios e imperfeitos evitamos não só o seu desperdício, como também o desperdício dos recursos utilizados: água, energia e horas de trabalho.


Pequenos e simples exemplos que ilustram bem a importância social da prática do voluntariado para o bem comum, seja pelo próprio enriquecimento pessoal (trabalho em equipa, compromisso, solidariedade e reciprocidade) seja pelo exemplo puro de cidadania ativa.


Hoje, mais do que nunca, partilhar e compartilhar é uma necessidade, não um ato de caridade. É uma forma de cultura que põe as pessoas em primeiro lugar.


Bem-hajam todos os que fazem o bem sem olhar a quem.


E tu, de que estás à espera para praticares voluntariado?


Carlos de Jesus


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